Você, usuário de cadeira de rodas, já se sentiu prejudicado por causa de uma barreira arquitetônica, como terreno irregular, calçadas desniveladas e o temido paralelepípedo? A triste realidade brasileira é se deparar com esses obstáculos diariamente.
Para milhões de pessoas com deficiência que dependem de cadeiras de rodas, esses desafios constantes são um fator impedidor para o deslocamento, afetando a inserção desse grupo na sociedade.
Neste artigo, vamos explorar mais sobre o impacto do terreno na mobilidade de PcD, assim como como as configurações da cadeira de rodas podem auxiliar a diminuí-lo.
O papel do terreno na mobilidade
O artigo 5º da Constituição Federal estabelece o que conhecemos como o direito de ir e vir de todos os cidadãos brasileiros. Desse modo, qualquer pessoa, que tenha ou não alguma deficiência ou mobilidade reduzida, deve ter o direito de circular facilmente por qualquer lugar.
No entanto, é comum que nos deparemos com a existência de desníveis, buracos, lixeiras, bueiros destampados e pisos escorregadios. Esses elementos limitam a livre circulação dos pedestres, de forma geral e, principalmente, das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.
Assim como, o tipo de solo influencia diretamente na performance dos equipamentos. Pisos lisos e nivelados, como cerâmicas e asfaltos, oferecem menor resistência, permitindo deslocamentos suaves e econômicos no consumo de energia. Já terrenos irregulares, com buracos, grama ou paralelepípedos, exigem mais esforço do motor e comprometem o conforto do usuário.
Bem como, o atrito e a absorção de impacto são fatores determinantes. Solos muito duros podem causar oscilação constante, o que, ao longo do tempo, pode gerar desconforto postural e até dores musculares. Já superfícies muito moles, como areia ou grama, dificultam a tração das rodas, podendo causar atolamento.
Impacto na saúde
Esses obstáculos não apenas dificultam o deslocamento, mas impõem ao usuário o que chamamos de Vibração de Corpo Inteiro (VCI), um fenômeno causado pela transmissão de vibrações do solo ou do veículo para todo o corpo, afetando principalmente a coluna e podendo gerar desconforto, fadiga e até lesões musculoesqueléticas com o tempo.
Para quem utiliza a cadeira de rodas por longos períodos, a exposição a níveis prejudiciais de vibração pode causar muito mais do que desconforto. Médicos indicam que a exposição prolongada à VCI pode levar a lesões secundárias graves, como:
- Dores nas costas e no pescoço.
- Dores musculares e fadiga.
- Espasticidade e dor na lombar, conforme relatos de usuários.
- Alterações nas funções fisiológicas, com potencial para desenvolver doenças em casos severos.
Estudo para entender esse impacto
Recentemente, um estudo foi realizado para avaliar experimentalmente os níveis de vibração transmitidos aos usuários de cadeiras de rodas motorizadas, buscando entender como diferentes configurações estruturais influenciam o conforto desses equipamentos.
A pesquisa utilizou a cadeira de rodas Freedom Lumina Motorizada no aro 13 e no aro 20 com objetivo de comparar as configurações variando o diâmetro das rodas traseiras. Os ensaios foram realizados em pistas com diferentes pavimentações, incluindo uma pista de calçada e uma de paralelepípedos, para simular a irregularidade do terreno real.
Os resultados comparativos entre as pistas de calçada e paralelepípedos utilizando a mesma cadeira Lumina aro 13, demonstraram claramente o impacto da superfície. Na pista de paralelepípedo foi observado que a média de vibrações são consideradas extremamente desconfortáveis comparada a pista de calçada.
Seguidamente comparando com a Lumina aro 20, os resultados confirmaram que rodas de maior diâmetro apresentam maior capacidade de transpor irregularidades com menor impacto vibratório.
Além disso, a suspensão frontal nas cadeiras motorizadas revelou-se um componente vital para a amortecimento das vibrações. Sua presença é uma solução de design fundamental para atenuar os choques causados por superfícies irregulares. A adição da suspensão frontal resultou em uma redução de 25,58% nas vibrações.
Configuração da cadeiras de rodas
Por fim, após analisar os dados fornecidos pelo estudo, é possível identificar que equipamentos com rodas traseiras maiores e suspensão frontal são duas configurações ideais para enfrentar terrenos irregulares, como o paralelepípedo.
Rodas traseiras maiores, com aro 20” por exemplo, demonstram maior capacidade de transpor irregularidades, fazendo que a roda “role por cima” dos obstáculos (como buracos ou saliências) em vez de cair neles ou ser forçada a saltar, reduzindo a severidade dos choques transmitidos à estrutura da cadeira e, consequentemente, ao usuário.
Já a suspensão frontal atua como um elemento estrutural que absorve e dissipa parte da energia gerada pelo contato da roda com as irregularidades da superfície (como buracos ou paralelepípedos), antes que essa energia atinja o assento e o usuário.
Assim, o terreno deixa de ser apenas um obstáculo físico e passa a ser um fator determinante para o conforto, a saúde e a autonomia de quem depende da cadeira de rodas. Portanto, compreender a relação entre o tipo de piso e os ajustes estruturais da cadeira não é apenas uma questão de desempenho, mas de saúde e qualidade de vida. A mobilidade, quando aliada à tecnologia e ao design adequado, torna-se uma ferramenta real de inclusão e autonomia, permitindo que cada pessoa se mova com liberdade, independentemente do caminho à sua frente.
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