O calendário brasileiro está cheio de datas que marcam lutas, histórias e causas importantes. Cada uma delas carrega um convite: olhar com mais atenção para realidades que muitas vezes passam despercebidas no nosso dia a dia.
Mas o que fazemos com esses marcos? Além da postagem nas redes sociais, além dos laços coloridos e hashtags, como podemos, de fato, aproveitar essas datas de luta e consciência?
Conscientizar é o primeiro passo para transformar
As datas de luta existem para jogar luz sobre o que normalmente é mantido na sombra. Elas não são apenas homenagens simbólicas, mas oportunidades reais de gerar diálogo, escuta e mobilização.
Um exemplo é o Dia Nacional de Luta contra a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), celebrado em 20 de junho, que nos convida a refletir sobre doenças neurodegenerativas e as barreiras enfrentadas por quem convive com deficiências adquiridas.
Doenças raras, deficiências invisíveis, realidades negligenciadas dificilmente ganham espaço no debate público. Nesse sentido, os dias de luta funcionam como pontes entre o silêncio e a escuta, entre o apagamento e a visibilidade.
Esses momentos são importantes porque permitem que as histórias individuais ganhem voz coletiva, criando conexões entre experiências pessoais e causas sociais maiores.
Também abrem espaço para que a sociedade reflita sobre o capacitismo estrutural, questionando padrões excludentes e promovendo empatia.
Além disso, funcionam como oportunidades para que a informação confiável circule, enfrentando a desinformação que ainda alimenta preconceitos e estigmas.
Mas para que essa transformação ocorra, é preciso mais do que reconhecer a data: é preciso agir a partir dela.
Capacitismo e desinformação: as barreiras que não vemos
Mesmo em 2025, o capacitismo, a discriminação contra pessoas com deficiência, segue presente em muitos espaços, muitas vezes de forma velada ou normalizada.
Frases como “nossa, nem parece que você tem deficiência”, “que superação!” ou “também, se eu ficasse nessa cadeira o dia todo, ia surtar” são exemplos cotidianos de como a deficiência ainda é vista por uma lente distorcida, marcada por pena, julgamento ou incredulidade.
Além disso, a desinformação sobre doenças como a ELA e outras condições neurológicas ou musculares alimenta estigmas, cria medo e afasta as pessoas do diálogo. A ausência de informação reforça o isolamento, perpetua estigmas e impede que muitas pessoas compreendam ou acolham realidades diferentes da sua.
É justamente por isso que datas de conscientização são importantes. Elas nos ajudam a derrubar esses muros com conhecimento, escuta e empatia.
O que você pode fazer nessas datas — e além delas?
Aproveitar uma data de luta significa se abrir para o aprendizado e para a transformação social. E isso pode (e deve) acontecer de maneiras práticas, possíveis e constantes. Aqui vão algumas atitudes que ajudam a transformar boas intenções em ações concretas:
- Informe-se com responsabilidade
Busque fontes confiáveis, leia, escute e acompanhe pessoas com deficiência que compartilham suas vivências. A informação certa é a base para combater estigmas e ampliar a empatia. - Amplifique vozes sem roubar o protagonismo
Compartilhe conteúdos relevantes, amplifique vozes, divulgue campanhas, mas sempre com cuidado para não tomar o lugar de fala de quem está na linha de frente da luta. - Pratique a escuta ativa
Escutar não é apenas ouvir. É acolher, sem interromper, sem corrigir, sem tentar “ensinar” alguém sobre a própria vivência. - Evite atitudes capacitistas, mesmo as bem-intencionadas
Cuidado com elogios disfarçados (“você é um guerreiro”), infantilização, ou comentários que reforcem estereótipos. O respeito começa pela linguagem. - Questione ambientes e estruturas
O local onde você estuda ou trabalha é acessível? Há rampas, comunicação inclusiva, atitudes acolhedoras? Inclusão não é só física, mas também é cultural e relacional. - Apoie e pressione por mudanças
Assine petições, apoie projetos, cobre de representantes políticos ações concretas para inclusão. A luta por direitos precisa do engajamento de todos.
Políticas públicas, pesquisa e acessibilidade: o tripé da inclusão
A inclusão real e duradoura não depende apenas de boa vontade individual, ela precisa ser sustentada por políticas públicas, investimento em pesquisa e acessibilidade plena.
Isso envolve o financiamento de estudos e tratamentos voltados para doenças raras ou negligenciadas, o incentivo à produção e ao acesso a tecnologias assistivas, bem como a garantia de acessibilidade arquitetônica, comunicacional e digital em todos os espaços.
Também passa pela formação adequada de profissionais de saúde, educação e assistência, para que possam oferecer um atendimento verdadeiramente inclusivo, e pelo fortalecimento de leis e políticas que não apenas protejam, mas também empoderem pessoas com deficiência.
Não há inclusão sem estrutura. Não há consciência sem ação.
Consciência não tem data marcada
As datas de luta, como o 20 de junho, são convites à reflexão coletiva, mas o verdadeiro compromisso começa no cotidiano.
Lutar contra o capacitismo, defender os direitos das pessoas com deficiência, ampliar a empatia social: nada disso pode se limitar ao calendário.
A escuta, o aprendizado e a mudança devem ser compromissos cotidianos. São as atitudes que tomamos quando ninguém está olhando que revelam nosso verdadeiro compromisso com a inclusão.
Cada pessoa tem o poder de construir conexões e abrir caminhos para um mundo mais justo e acessível.
Que possamos, então, aproveitar as datas de luta como pontos de partida, mas cultivar diariamente a consciência e o compromisso com a inclusão.
Compartilhe essa ideia e ajude a espalhar mais inclusão todos os dias, aproveite e nos marque nas redes sociais.